quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Brasília foi feita....

Brasília não foi feito para mim, ou para qualquer pessoa que tenha alguma limitação diferenciada, e, vou dizer por que.... ACESSIBILIDADE! E olha que já melhorou muito, mas ainda tem chão!!

Minha teoria é a seguinte.... Brasília foi construída em um tempo em que as pessoas morriam mais cedo e pessoas com deficiência e/ou que tenham limitações diversas e reduzidas eram “escondidas” em casa ou em algum outro lugar para “não incomodar”. E, como costumo dizer, estamos saindo das tocas, nos deparamos com um mundo de difícil acesso.

Algum tempo atrás escrevi um texto chamado me equilibrando no meu desequilíbrio... É verdade, tenho consciência de que meu equilíbrio não é tão “de boas” assim, mas sinceramente, não é fácil, embora tente dar o melhor de mim, se equilibrar nas ruas e calçadas que temos. E outra coisa, rampas e corrimãos não necessariamente são sinônimos de acessibilidade. É por essas e outras, meus caros, que por algumas vezes já comentaram que tenho andar de bêbado e outras coisas que, para ser sincera, não são legais, mas, ou tenho resposta na língua ou tento ignorar.

Outra coisa, que hoje em dia acho curiosa, por não ter uma deficiência visível, digo, não uso cadeira de rodas, muleta, andador (já usei quando mais nova), algumas pessoas não acreditam quando falo das minhas limitações ou, quando vieram até mim uma vez e me perguntaram: - você não tem mais paralisia cerebral né? Nossa, foi uma coisa complicada de se ouvir e, como eu iria elaborar isso para, da melhor maneira possível, responder. Eis a minha resposta: - melhorei ao longo dos anos devido a ter tido a oportunidade de ir para fora do país, Hungria, para fazer um tratamento que me possibilitasse ter a autonomia que tenho hoje, mas a melhora que tenho hoje não significa que minha deficiência não esteja comigo, nasci com ela e vou morrer com ela.

Voltando ao assunto sobre acessibilidade, ou a falta de, pessoas com deficiência e/ou que tenham limitações diferenciadas, acredito ter alguns desapontamentos ao sair de casa pois a falta de caminhos que proporcionem mais segurança e ajude na nossa autonomia acaba ficando meio prejudicado. Gente, vamos combinar, uma boa calçada ou um caminho que não tenha tantos obstáculos, faz muitaaaaa diferença.

Ao longo dos anos, fomos e, infelizmente algumas vezes ainda somos levados a crer que, devidos as nossas limitações, não somos capazes de fazer muitas coisas. Hoje, já estamos mudando um pouco isso mas o fator acessibilidade não ajuda muito nesse processo. O maior obstáculo, um dos, que encontro diariamente, andando pelas calçadas de Brasília é a dificuldade de ir para onde se quer, o direito fundamental de ir e vir, a não ser que vá de carro. A impressão que dá é, sinceramente, que caíram pequenas crateras nas ruas e calçadas, pois fica com umas pedrinhas no chão e, isso dá medo de cair. Há seis anos ganhei um triciclo, um dos melhores dias da minha vida pois sempre quis andar de bicicleta. Meu triciclo é manual, tem uma versão elétrica, mas acredito que devido minha circunstância não seria um bom negócio. Ando de triciclo sempre que dá, onde dá, faço “reconhecimento de terreno” para ver onde dá para passar mas devo reconhecer que fico com um pouco de medo de cair mas não paro por causa disso, pois, como digo, preciso me equilibrar duplamente, por minha deficiência e por meu triciclo pois, em certos trajetos tenho que ficar descendo e subindo do triciclo para conseguir passar por algum lugar.

 

terça-feira, 14 de junho de 2022

PC astral

Há quem ache que a astrologia influencia a vida das pessoas, e busque explicações para traços de sua personalidade no seu mapa astral. Então decidi fazer uma espécie de mapa astral, mas sem ser de signos.... pera .... a coisa toda do mapa astral é justamente os signos… então… pode não fazer muito sentido, mas, vá lá. Meu PC astral vem de paralisia cerebral e astral.... bom, vem de astral mesmo.

Olá, sou a Júlia e sou uma leonina do dia 1º de Agosto de 1985. Tenho uma deficiência física que ganhou o nome de ataxia. Essa ataxia é de causa indeterminada, e de nascença. Na verdade, é Paralisia Cerebral do tipo atáxica...mas vamos chegar nisso já já. É o seguinte, entrei nos meus 36 anos, não posso dizer que não me chateia quando lembro das coisas de que me chamaram, dos rótulos que me puseram. Tem rótulos até hoje né... Procuro ficar de bom astral, não é fácil não minha gente, dá vontade de jogar tudo para cima e mandar algumas pessoas para aquele lugar, sabe. Mas segue o bonde que o mundo dá voltas... Eita ferro hahaha

Comecemos explicando que raios é paralisia cerebral. Paralisia cerebral é qualquer tipo de lesão no cérebro. Existem diferentes tipos de paralisia cerebral. A minha se chama paralisia cerebral atáxica e, isso afeta a coordenação motora e o equilíbrio. O que ocasionou isso? Não sabemos. Por isso o nome completo do que me acompanha é: Paralisia cerebral do tipo atáxica de etiologia indeterminada.... Houve um tempo que eu ia atrás de respostas a essa pergunta, qualquer que fosse, toda vez que tinha oportunidade… Hoje em dia, por tudo o que já fiz e que já passei, descobrir uma possível causa talvez não fizesse muita diferença para mim. E se, caso houver, algum dia, uma explicação ou resposta, seria legal saber. Mas acho que para mim não mudaria nada ou, talvez, quase nada.

Parece assustador né.... E, às vezes é mesmo, ainda mais quando não se sabe de onde vem, para onde vai, o que faz etc. Mas, creio eu, o mais assustador é não ter informação sobre isso e simplesmente aceitar por ser mais fácil... aceitar no sentido de aceita que dói menos... o caminho mais fácil, sem perguntas, sem pesquisa, só o que dizem e pronto. Mas não quero ser assim, que aceita calada a situação, e não sou, caras pessoas! Não aceito isso calada não, acredito que devemos sim saber o que se passa, devemos pesquisar mais sobre o que acontece e, como acontece, que conseguiremos sim, e, como cada pessoa é única, saber e relatar como isso afeta cada um de nós. E mais, não resumir tudo ou quase tudo que você faz ou não a um diagnóstico que foi lhe dado... hum...tipo assim... Há muito tempo. Qual é? Somos mais que isso, gente...não que diagnósticos não sejam necessários, é claro que são, mas limitar-se a eles, pera lá né! Nasci com essa condição que não posso mudar, mas sim conviver da melhor maneira possível. E, também acredito, poder lidar com o que outras pessoas vão falar, porque vão, viu, não vamos tapar o sol com a peneira. Hoje penso assim. Demorou um tantinho para que amadurecessem essas ideias, muita água passou, mas no final das contas ainda estou aprendendo… 

Seria muito mais cômodo aceitar que não podemos fazer isso ou aquilo por causa de uma deficiência, é mais fácil… fácil para quem!? Não é fácil ouvir alguém dizer que você não consegue fazer alguma coisa, sem sequer falar com a gente antes e procurar se informar melhor. A realidade é esta, meus amigos: limitações podem e, na maioria das vezes, geram mais limitações a nossa busca de autonomia. De tanto falarem que você não pode fazer isso ou aquilo, você pode “pôr na cabeça” que não vai conseguir, e efetivamente não consegue, mesmo porque pode dar um medo louco só de tentar fazer alguma coisa que possa dar errado. Entendo que ajam dessa maneira, às vezes, por nos querer bem e se preocupar com nosso bem estar.

 Já me senti muito patinho feito por zoarem da minha aparência e das minhas pernas, falavam que eu andava de um jeito engraçado e coisas desse tipo. Tenho que lidar com isso todos os dias, hoje menos que antes. Lidar com algo implica escolha. Nascer assim não é algo que eu tenha escolhido, mas convivo. Escolhi e ainda escolho como vou viver a partir daquilo que tenho né.... Então, agora posso sim escolher como determinada situação me afeta, pessoas me afetam... tenho a escolha de me afastar ou não, de ligar para o que as pessoas dizem. Veja bem, acho que não é tanto o que dizem, mas como dizem. Não tem uma fórmula para lidar com isso. Não somos ensinados a viver com nossas limitações, é difícil. Mas acredito que, mesmo com algumas situações e circunstâncias, esteja me saindo bem.

Olha só, tem gente que fala que quem é do signo de leão é narcisista, tem autoestima lá em cima, é orgulhoso e sabe-se lá mais o que. Pois bem, como tenho só 1,57 de altura, coisas lá em cima não me representam ... Mas, tirando as brincadeiras de lado, minha autoestima posso dizer que foi sendo construída ao longo dos tempo devido ao bullying nas escolas e outros lugares. Hoje, posso não ser a pessoa mais linda do mundo, nenhuma Marilyn da vida (esse já foi o padrão de beleza, né?), mas sei que devo ter meus atrativos, afinal, não sou só pernas que às vezes me fazem perder o equilíbrio, gosto de algumas partes do meu corpo e outras não, acho que todo mundo é assim. Até que sou bonita vai! Outra característica de leão que encontrei foi coragem...ok, posso dizer que seja uma pessoa corajosa, mas sei a hora de me recolher também...sou doida, mas nem tanto.

Ascendente em escorpião… Não sei direito o que significa, mas também já falaram algumas coisas bem ruinzinhas desse bicho aí, viu. Bom, não sei o que isso me afeta de fato, mas já ouvi falar que é a primeira impressão da pessoa. Dito isso, acho que a primeira impressão que alguém tem de mim é, talvez, que seja uma boa amiga, uma pessoa engraçada. Não sei, nunca me deu vontade de perguntar o que acham de mim, normalmente já saem julgando mesmo. Só acho que julgar nunca é legal, mas se quiserem julgar, conheçam a pessoa antes. Quer saber, eu te conto, este diz que diz me cansa muito...não sou obrigada tá bem. Escorpião, pelo que pesquisei, está relacionado a intensidade e, realmente sou bem intensa, às vezes até de mais. Se, segundo o ditado, a primeira impressão é a que fica, não sei se isso é uma boa coisa não. Hahaha

Vamos lá... lua… ah lua....minha lua é em aquário, já achei que era porque gosto de nadar, água hahaha viajei né. Bom, aquário é signo de ar então, deixa eu ver...viajar, outros ares… às vezes viajo sem nem sair do lugar ... Quem nunca né? kk Bom, me parece que sua lua tem a ver com sentimentos, verdade? Não sei, mas se for isso mesmo, os meus são meio instáveis, confusos, eu acho. Na verdade, acho que os de muita gente também. Aquário está relacionado a independência… Vem cá, de qual estamos falando? Independência emocional, financeira, total, parcial...Costumo falar que sou uma pessoa dependente independente. Primeiro e antes de tudo, ter uma deficiência muitas vezes requer ajuda de terceiros, então tudo que posso fazer sozinha eu faço, tento de um jeito, se não conseguir, tento de outro jeito e, com muita alegria, não é do meu feito desistir não e, o que não dá para fazer, que são mais difíceis, mais complexas, peço ajuda ou, em último caso, não faço. 

Bem, claramente não entendo muito bem de signos e mapa astral, ganhei um de aniversário uma vez, mas não entendi direito, são muitas casas, trânsitos, outros signos no seu signo etc. Também tem muitos estereótipos né, tal signo é assim, tal signo é assado. Cada pessoa é diferente, tem características e vivências diferentes. Resumindo, o que acho é que nem todo mundo do signo tal é de um jeito, assim como do signo assado.

Mas enfim, o foco aqui não é signo, é astral sim, mas é de um jeito diferente... Vamos lá?

Sou desequilibrada, ok. Não no sentido de perturbada da cabeça. No sentido literal mesmo: meu equilíbrio é instável, tem dias que está melhor e dias que está pior, dias que estou mais desequilibrada, não entendo bem as variáveis envolvidas, que atrapalham ou não a forma como ando, mas sei que definitivamente tem algo aí e não é só referente à ataxia, acho que tem mais coisa aí. Me pergunto quais os processos podem ajudar ou atrapalhar meu caminhar. Digo às vezes que sou uma equilibrista em uma corda bamba que está no chão. HAHA! E, claro, meu equilíbrio vai comigo aonde eu for... não tem como deixar em casa né. Não sei vocês, mas eu tenho uma espécie de voz na cabeça que fica perguntando assim: - será que você dá conta? Ou – vamos tentar? Ah, tenho de dizer que, apesar de já ter tido vergonha de pedir ajuda, aprendi que tudo bem pedir, não é sinal de fraqueza.

Como para quase tudo na vida tem dia, adivinhem, temos um dia também. E eu adoro uma comemoração, não só dias festivos, como aniversário, natal, etc. Falou em comemorar alguma coisa, estou dentro. Aliás, acho que comemoro quase todo dia, mesmo sem ter dia específico. Mas, a título de curiosidade, não só para os outros mas para mim também, o dia da luta da pessoa com deficiência é dia 21 de Setembro. O dia mundial da paralisia cerebral é em 6 de Outubro. Já no dia 11 do mesmo mês é o dia da pessoa com deficiência física. O dia internacional da pessoa com deficiência fica no mês de Dezembro, é 3. Também temos uma semana inteira em Agosto, que vai do dia 21 ao dia 28, que é a semana nacional da pessoa com deficiência intelectual e múltipla.

Você é especial? Eu, modéstia à parte, sou, quer dizer, acho que sou haha... Para minha família, meus amigos, e eles são especiais para mim também. Você deve ser especial para alguém, ou ter alguém especial na sua vida.... Sabe, especial é um adjetivo e, acho que quando empregam essa palavra para se referir a alguém com deficiência nunca me pareceu que estivessem elogiando, ou estou errada? Porque, pelo dicionário, especial é um adjetivo que você dá para uma coisa ou uma pessoa. Pode ser um lugar ou um momento especial também. Isso nunca me incomodou, mas acho importante falar que se você quiser colocar a palavra especial em uma frase, veja bem como usá-la. 

 Ser deficiente não me torna mais ou menos especial que ninguém. Alguns teimam em se referir a uma pessoa com deficiência desta maneira. Acredito que tenho pessoas especiais na minha vida, que fazem com que meus dias, o lugar onde estou, alguns momentos, sejam tão especiais e fantásticos. 

Sou mais lenta que algumas pessoas. Lenta para aprender, por exemplo. Aprendo, mas não sou nenhuma the flash. Levo um pouco mais de tempo para isso. Escrevo mais lentamente também. Sou mais lenta para fazer algumas coisas, para me deslocar de um lugar a outro, e tenho medo de me desequilibrar e cair. Isso é complicado quando as pessoas não são assim, e aí, gritar e brigar sem pensar nas consequências não dá. Adquirimos, por assim dizer, algumas técnicas, alguns mecanismos para dar conta de nossas demandas enquanto uma pessoa que tem uma deficiência, tendo consciência de nossas limitações.

Um fato: meu apelido na camiseta de formatura da 8ª série foi Robocop, um dos apelidos que me deram na escola. Hoje, não ligo, acho até que curto, mas, na época, me chateava muito. Uma vez, ao sair da faculdade, fui ao cinema e disse para minha amiga que iria assistir um filme que inspirou meu apelido....

Não tenho vergonha da minha deficiência, ela veio comigo, está comigo em todos os momentos da minha vida e vai embora comigo quando chegar a hora. Não vejo por que “anunciar” que tenho uma deficiência. Entendo que a classificação, por assim dizer, às vezes seja necessária, mas para mim isso só reforça os inúmeros rótulos que nos colocam. Eventualmente os outros percebem, mesmo que às vezes demore um pouco.  

Já somos tão estigmatizadas, se você é mulher tem que ser como a sociedade diz que a mulher tem quer ser. Ser mulher e uma pessoa com deficiência então... e, não é bem visto você querer ser outra coisa a não ser aqueles estereótipos, aqueles padrões que a sociedade impõem ao longo dos anos, parece que não levam a sério mulheres que escolhem várias faces de si mesma: a engraçada, a amiga, a companheira de bar (mesmo que não beba muito), namorada, enfim, tudo o que você quiser ser. E, por ser uma mulher com deficiência, você tem menos escolhas ainda. Onde está escrito que só pode ser uma coisa? Recuso-me a me definirem como algo só, sou quem quero ser ou quantas quero ser... "Eu sou o que sou e já desfruto disso". É... sou e sei disso. Às vezes usamos isso como uma espécie de escudo (acho que é isso mesmo) e ficamos com medo de ficarmos vulneráveis lá fora, diante do que teremos que enfrentar. E é feio, eu vi. Pessoas que são diferentes podem ser tratadas como se tivesse algo contagioso ou algo assim. Pessoas com pensamento pequeno, a meu ver, podem ser tão cruéis. Por isso e por não nos aceitarmos como somos, nos escondemos em nós mesmos para nos defendermos e até fugirmos de alguma situação que nos machuque. Mas, exatamente por sermos assim, devemos dizer: "eu quero, eu posso, eu consigo". Somos seres humanos também e queremos igualdade. A sociedade não pode estabelecer o que somos e como devemos ser. " Para mim, ser diferente é normal" Pronto falei :) Se bem que até a palavra normal já me soa meio estranha.

Medo… Todo mundo tem, mas meus medos encaro hoje mais como meus aliados e não como uma ameaça. Xii, isso soa como frase de livro de autoajuda, mas, para mim, é a mais pura verdade. Tenho diálogos longos comigo mesma e cá para nós pode ser bem interessante ser seu próprio locutor e ouvinte. Entendo que o medo ronda, preocupações fazem parte do cotidiano e às vezes podem se tornar monstros capazes de nos fazer desistir de tudo que queremos. Uma coisa te digo, famigerado medo, você não vai ser maior que eu, apesar da minha estatura... Medo de você já tive e agora, o nervosismo que gosta de estremecer as bases deixando tudo sem cor, meu amor, aqui você não se cria mais não. Agora, colocando os pingos nos is, posso prometer isso: vou tentar e, se não der certo, tento de novo até encontrar uma maneira de conseguir.

Relacionamentos… Difícil falar disso e também de viver. De qualquer ordem. Não tem fórmula. Quando mais nova, não entendia muito bem por que me excluíam, não me queriam por perto, me afastavam... Na verdade, ainda hoje, de vez em quando fico achando que têm vergonha de mim, mas depois falo disso. Enfim, hoje, depois de pensar muito a respeito, imagino a pressão que deva ser ficar com uma pessoa tão diferente de você, com particularidades tão distintas. Não estou justificando nada nem ninguém, é que as pessoas aprendem desde muito cedo e reproduzem que as diferenças devem ser afastadas. São ensinadas a agir e a pensar conforme os padrões e quem não se encaixa nisso é excluído. Isso é uma pena, pois quem sai perdendo são essas pessoas que nos querem afastar. Inclusive, já comentaram, ridiculamente na minha opinião, que deveria só me relacionar, amorosamente, com pessoas iguais a mim .... Igual como? Modéstia à parte, sou gente boa!

Já me perguntaram sobre minha deficiência. Algumas pessoas, mesmo curiosas, não perguntam, por vergonha, preconceito ou por não quererem machucar, ou ainda por convenção social mesmo. Hoje em dia, perguntam mais. Perguntam se me sinto confortável em falar sobre minha deficiência. Na verdade, não lembro direitinho quando de fato cruzei essa linha, mas lembro de, quando ingressei na primeira faculdade, em 2005, Faculdade de Artes Dulcina de Morais, tomando um café na hora do intervalo entre as aulas, uma colega que era, na época, auxiliar de enfermagem, sentou-se em minha mesa e perguntou, primeiro, se estava tudo bem em falar sobre isso, se não me incomodaria que ela perguntasse o que eu tinha, e se era de nascença ou acidente. Aquilo mexeu comigo, mas não no sentido de ter me incomodado, ou de ter me deixado triste; ao contrário, achei uma boa oportunidade para tentar me expressar além das coisas que escrevia nas horas vagas na minha agenda, que fazia as vezes de diário; antes só escrevia sobre isso, o que foi e tem sido uma terapia para mim. Foi também nesta faculdade que fiz alguns trabalhos sobre o tema inclusão, adicionando minha visão pessoal. 

Na faculdade, assim como nas escolas que frequentei, era a única aluna deficiente da turma; então, resolvi, de um jeito engraçado (para mim, pelo menos), fazer pequenos textos contando como me sentia sobre minha deficiência. Foi assim que surgiu “Fragmentos de Mim”, compilação minha junto com meu antigo professor, Túlio Guimarães. Aqui conto como foi que ele me “descobriu”. Aconteceu assim: estava numa aula chamada “direção de atores” e estava, para variar, rabiscando no meu “agendário”. Não costumo usar agendas para a função delas haha, então, na hora que a inspiração bate, eu escrevo, e uma dessas vezes em que ela veio foi na hora do intervalo. Todos da sala estavam se reunindo com dois ou três colegas para dirigi-los em sua cena e, eu, como de costume, sentei num canto da sala e fui retocar um dos textos que havia escrito, dentre os vários que tinha. Então, vendo que eu não estava trabalhando com ninguém, o professor viu o que eu estava escrevendo e, para minha surpresa, ele gostou e surgiu a ideia do monólogo. Fiquei tão nervosa quando chegou a hora de apresentar porque uma coisa é apresentar trechos de peças de teatro já montadas, outra completamente diferente é fazer algo que você escreveu, sobre sua vida.

Atualmente sou estudante de psicologia, 2ª graduação e, lá foi a primeira vez que encontrei outras pessoas com deficiência na faculdade, convivo com outras pessoas com deficiência na vela adaptada e no fashion inclusivo, e foi lá também que me deparei com amantes de astrologia, fora os que tenho fora da vida acadêmica. E, minha resposta para quem gosta de astrologia é:é importante? Sim, mas não é tudo. Assim como não quero que seja estigmatizada por um diagnóstico, também não quero que o façam pelo meu signo ou pelos meus signos, meu mapa astral. Astrologia faz parte, mas não é o todo. Mas claro, isso é só minha opinião. 

 


sábado, 20 de junho de 2020

Terapia emocional...beijos e abraços e afins :)

Abraços, beijos, carinhos. De amigos, namorados, colegas, família...muitas coisas cabem em um abraço. Pode ser com ou sem beijos (com é melhor haha), apertado, saudoso, carinhoso...hum...
Claro que nem todos se sentem confortáveis com essa demonstração de afeto, seja público ou privado. E está tudo bem, obviamente ninguém é obrigado (a) a se juntar ao, que para mim é, uma celebração. Mas, a aversão (se é que podemos chamar assim), a isso pode ser cultural e social. Não julgo, claro, quem, por alguma razão, não curta essas demonstrações mas, confesso que, por ser diferente do modo como vivo e o fato de gostar de abraçar e beijar pessoas queridas, sinto até uma certa necessidade, me causa um certo estranhamento mas, respeito quem não pensa assim, é óbvio. Só acho que, seria bom chegar e falar abertamente sobre isso, se houver intimidade para tal. Mas também não condeno quem não dê conta disso.
"O primeiro gesto humano é o abraço"... E, nessa atual situação, na qual se torna necessário um isolamento social, pode ser sentida a falta de contato humano, de sair com amigos (ou sozinho), abraçar pessoas que estão longe (ou perto, porque não). Nem preciso dizer que o abraço é terapêutico né?  Nem precisa dizer nada se não quiser, só abraçar, gestos de carinhos normalmente são bem aceitos, mesmo sem palavras. Também é público e notório, pelo menos acho que é haha, que damos mais valor depois que perdemos....no caso, temporariamente, por conta da pandemia.
No filme Frozen, 2013, o personagem Olaf se apresenta dizendo gostar de "abraços quentinhos", isso muito que me represente, afinal, adoro abraços né :);
No filme A Cinco Passos de Você, 2019, relata-se a importância do toque, na frase dita por um de seus personagens: "precisamos ser tocados por quem amamos quase tanto quanto precisamos do ar que respiramos", claro que é um caso de romance mas, quem disse que quem amamos tem que ser só por quem estamos apaixonados? Amamos amigos, colegas, irmãos, pais, tios, avós...tanta gente...e olha, no meu caso amo mesmo hein hahaha;
Músicas como a que Jota Quest fala que "o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço". De uma pessoa querida é com certeza;
Na televisão, a apresentadora Astrid comanda um programa chamado "chegadas e partidas", que é basicamente sobre reencontros e, adivinha....mais abraços :)
E também existem músicas, textos, poemas, coisas diversas, todas falando da importância do afeto e como repercute nos seres humanos. A falta de afeto pode e, diante do cenário atual da pandemia, tem afetado as relações humanas por não poderem se ver, ta pessoalmente vai pois entre outras coisas, os meios de comunicação estão aí para isso também. Aí já dá para matar um pouquinho da saudade né :)
Isso tudo para falar que, como vocês já devem ter imaginado 🤣, abraços, beijos, afetos e afins são importantes para nós e, para mim, quem me conhece sabe que claro e evidente para mim é, espero que esse período acabe logo porque já está cansativo...sei que é sério mas já cansou.
"Beijos, abraços e carinhos sem ter fim"😊

quarta-feira, 29 de abril de 2020

gangue do deboche

Relutei.. para escrever isso. Demorei para superar.. para esquecer.
Achei que nunca mais fosse vê-lo até o dia em que, nunca mais havia pensado nele e nem naquela época, o vi, sentado, em o que acredito fosse seu horário de almoço. Fiquei sem reação. Como que depois de tanto anos, um só momento, minutos que fosse, pudesse me trazer lembranças que às vezes gostaria de ter esquecido?
Já se passaram alguns anos que esse encontro inesperado aconteceu mas, aquele dia me marcou tanto, no sentido que, ao voltar a mim, comecei a escrever o que, não sabia como, mas gostaria de ter dito a ele na ocasião. E, fui para casa e escrevi. Só não tive coragem de expor aqui nesse espaço...bobagem né, mas na hora que terminei de escrever me pareceu que não valeria a pena mostrar para ninguém. Enfim, hoje, tomei coragem e decidi colocar para fora hahaha. Escrever me faz bem, quando não consigo me expressar falando, tento a escrita, acho uma boa saída...é terapêutico.

Não sei se devo agradecer ou não. Parando agora para pensar, parte de mim acho que devo a você. Na época não sabia, mas me fortalecia a cada desprezo seu. Fui muito magoada nos tempos da escola. Éramos jovens, crianças, e achava que sabia o que era gostar de alguém e, meu erro, talvez tenha sido gostar muito de você e por isso me machuquei muito.
Nunca te odiei. Não entendia bem por que fazia o que fazia, por que além de não gostar de mim tinha que me humilhar na frente dos outros. E, não satisfeito, era o líder da "gangue do deboche", que por algumas vezes me detonava na sala de aula.
Ei, olha eu aqui, lembra de mim! Sou aquela garota que estudou com você. Aquela mesma que você e tantos outros zombavam.
Gostaria de te dizer que consegui, ou estou conseguindo o que, um dia me disseram que não conseguiria. E ainda digo mais, conseguirei mais coisa.
Houve um tempo em que eu acreditei em você e no seu "esquadrão do deboche". Mas vocês estavam enganados a meu respeito. Ainda tenho aquele andar engraçado que vocês falavam, acho que ainda muita gente deve falar dele mas, quer saber, não vou mais deixar quem quer que seja, gostando da pessoa ou não, me limitar. Já passei por poucas e boas por aí. Superei você, seu esquadrão e tantos outros por aí. Já me deram nomes que não gostei...já deu né.
Algumas vezes já pensei que um dia encontraria pessoas que zombaram de mim no passado e falaria: olha como estou agora, diferente de quem vocês conheceram né? O que vocês pensam de mim agora?...Quer saber, não importa....tchauzinho!
Pensar assim me deixava feliz, queria que me vissem, o que conquistei, que não era mais aquela menina esquisita da escola, cheia de rótulos e não sei mais o que que falavam de mim. Mas, não vejo muita razão em pensar nisso, acho mesquinho até. Cutucar a ferida sabe. 
Vamos nos ver de novo e, provavelmente, não vai se lembrar do que me fez mas, embora não esqueça do que aconteceu, te perdoo. Sei que, assim como você, muitas pessoas se enganarão a meu respeito, posso ter que enfrentar algumas coisas que não sejam muito agradáveis, como naquele tempo mas, não tenho como prever nada e nem exigir que se comportem como eu gostaria. Isso é com elas né!
Hoje, depois de muitos anos, vejo assim: irônico, quem me prejudicou, indiretamente tenha me ajudado na "construção mais forte de mim". Acho que, por isso, te agradeço. Acho que esquecer não vou poder mas acho que posso dizer que estou bem agora.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

me poupe por favor!!

Vivemos em uma sociedade...bem...preconceituosa, machista, sexista e intolerante, tem coisas boas também viu, eu prometo haha, entre outras coisas que não vem ao caso falar aqui e nem agora. E, nem todos aceitam bem a convivência com pessoas que tenham algum tipo de limitação. A verdade é que todos nos temos alguma limitação mas, se me permitem uma rápida observação: o diferente gera ou, pode gerar, a oportunidade de nos vermos sobre uma outra perspectıva.
ô já deu ta....se achar que mesmo assim não vale a pena ficarmos juntos me faça o favor e saia da minha vida, pode ir embora. Não me iluda e não me engane, não perca meu tempo, isso não será bom nem para mim e nem para você. Então, se não estiver de boa com a situação, mesmo sofrendo, prefiro que vá embora...O únıco amor que vou precisar mesmo para o resto da minha vida é o meu, o resto é bônus haha. A verdade nua e crua é essa meus amigos :) E a verdade muıtas vezes dói né! hahaha
O mundo não é um lugar muıto gentil para quem tem alguma, ou em certos casos algumas, limitações. São pressões de todos os lados, falta de sensibilidade, noção, acessibilidade, compaıxão, etc.
Chega, vá embora daqui! Diz que aceita mas na primeira dificuldade tira o corpo fora, é cada besteira que ouvimos, chacota, piadas...QUE PORRE! Ainda bem que essas coisas diminuíram, bastante, na verdade quase não ouço mais esses tipo de coisas, pelo menos ao meu respeito, mas o que deve ter de gente que menospreza e/ou rebaixa pessoas que tem algo de diferente em si, que minam tanto que deixa a nossa autoestima bem "esmagada". Mas seja como for e seja quem for, é uma afronta para qualquer pessoa, deficiente ou não, lidar com algumas pessoas que ınsıstem em serem desdenhosos com o diferente.
Claro que não temos como exigir que saibam como somos, isso é da convivêncıa, aceitação, principalmente a para conosco mesmos. A verdade é que às vezes seria mais fácil se as pessoas com quem convivemos viessem com bula de instrução mas, como isso não é possível, é dando cabeçada mesmo que aprendemos...ou nem assım, na verdade hahaha
Outra verdade, para mim, é essa: mesmo que as agressões psicológicas do preconceito estejam cada vezes menores, espero, sempre terá alguém que pense, reage, fale e demonstre de todas as formas e feitio que, o diferente incomoda. E ele/ela sempre vai dar um jeito de te mostrar isso. Não tenho ilusões que isso não exista, sei disso e sei que mais cedo ou mais tarde alguma coisa vai aparecer mas, dessa vez, espero estar melhor preparada haha!

fila de cimena, aeroporto e afins

Não sei se me sinto lisonjeada ou afrontada. Por um lado afirmarem que não pareço deficiente me causa um certo desconforto, (estranho), e por outro, como nunca tinha experenciado tal coisa e ainda por cima do jeito que aconteceu, como reagir a situacões assim?
Bom, vamos contextualizar primeiro...tempos atrás, em uma fila de cinema de um shopping local de Brasilia, estava eu na fila preferencial, como de costume, quando um homem que estava a minha frente na mesma fila me perguntou (em um tom nada amistoso) o que eu estava fazendo ali e, ainda acrescentou que meu lugar não era aquele. Bem...meu lugar....pensei...ora, quem ele pensa que é para falar com alguém daquele jeito! Fiquei tão...sei lá, era uma mistura de raiva com tristeza e espanto (pois fiquei sem reação), ai meu Deus, o que falar para pessoas tão sem compaixão, será que retruco, fico com raiva e dou uma resposta no mesmo tom que ele usou comigo ao se dirijir daquele jeito? Não...com toda paciência que me foi dada (eu acho) kkkk, falei explicando com a delicadeza com que nem sempre me trataram. - estou aqui porque tenho direito de estar aqui, e um direito meu por lei. E ainda complementei, não que devesse pois ele não tinha e não tem nada a ver com a minha vida, mas quis ser educada e explicativa ou até educativa, vai saber. - nasci com deficiência física, tenho mobilidade reduzida. Enquanto explicava a ele meu direito legitimo de estar la, a expressão de seu rosto foi ficando mais relaxada, diferente da abordagem que ele tinha feito minutos antes. Junto dele havia uma mulher o acompanhando e ela o advertiu, depois de presenciar toda a cena, que eu estava ali sabendo que se tratava de uma fila preferencial e que eu estava la porque certamente precisva. Fim de papo e fomos todos aproveitar nossas sessões de cinema.
Outro caso foi, estavámos um amigo e eu na fila preferencial de um aeroporto em São Paulo (agora sempre vou nessas filas), quando um senhor que estava atrás de nós perguntou, mas dessa vez em um tom mais aprasivel, você sabe que isso é uma fila preferencial né? por que você esta aqui, está tudo bem? Eu já estava sinceramente de saco cheio dessas pessoas e, por conta do ocorrido no cinema, já estava com quatro pedras na mão. Mas o senhor havia me perguntado tão calmo e gentil. E gentilmente o respondi que estava ali porque sou deficiente. O senhor, ao contrário do homem no cinema disse: - não precisa justificar para ninguem que você esta aqui por isso ou aquilo, apenas diga, eu sei que é uma fila preferencial e estou aqui por direito. Fiquei surpresa com o que ele me disse que acabou sendo um dos assuntos que comentamos, meu amigo e eu, durante nosso percusso até São Paulo.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Sou assim...

Sou pessoa com deficiência, não porto nada e nem sou especial, até por que especiais todos somos. Não me vejo especial por ser deficiente. Posso fazer coisas especiais ou ser especial para alguém. Também não dá para tapar o sol com peneira, eu sou eu e minhas circunstâncias e sei onde meu calo aperta. Sou assim sim, mas não deixo de fazer nada do que quero, na medida do possível. "Consigo tudo que eu quero", não me lembro de ter dito isso, mas me afirmaram que eu disse hahaha!
Com o passar do tempo, já alguns rótulos foram postos em quem nasceu ou adquiriu algumas circunstâncias diferenciadas e acredito que não vai parar por aí não. Já fomos chamados de tantas coisas, nomes "inapropriados", palavras às vezes ofensivas e sujeitos a apelidos toscos e de muito mau gosto.
Pois eu te digo isso, essas coisas incomodam sim, e não é pouco não, mas chega uma hora que nada disso faz o menor sentido e acaba incomodando cada vez menos. Claro que há maneiras e maneiras de se lidar com esses tipos de coisa...o meu é escrever, pelo menos agora é escrever hahaha. Já bati em gente por me chamarem de um monte de nomes, xinguei etc. Disso não me orgulho, violência não ajuda em nada, mas na hora foi o que me ocorreu.
Cada um lida do jeito que dá, como consegue na hora, muda a forma de lidar com isso... ou não muda... sem julgar, tá, pessoal?