sábado, 2 de agosto de 2025

O que é?

O que falar de você? “sai da minha aba, sai para lá”? kkk Você às vezes tem a péssima mania de tentar vir à tona a todo custo nas nossas vidas né, parece uma espécie de montanha russa emocional que, mesmo parecendo que vamos conseguir te superar -- às vezes não por completo, mas ameniza, -- bum!...Você volta a atormentar e, por uma fração de segundo já voltamos a nos sentir, sei lá como estávamos antes. Por vezes, a convivência com certos sentimentos se torna um exercício constante de autoconhecimento. É como se dentro de nós habitassem múltiplas versões, algumas acolhedoras e outras tão densas que preferimos guardar à distância. Reconhecer o que nos faz bem e o que nos afasta do nosso próprio eixo é um processo difícil, mas necessário para preservar a saúde emocional.

Tem uma parte de você que quero na minha vida, outra já não me interessa. Prefiro que essa parte tóxica e desmotivadora fique longe de mim. Embora seja importante te ter por perto, até para sobrevivência, tem horas que não quero te ver, que dirá sentir. Às vezes, sua ausência é mais benéfica, tem momentos que sair de cena é melhor, atrapalha sabe, então, por favor, me deixa em paz. Não estou dizendo que não seja necessário, mas convivo com essa insegurança a tanto tempo, em tantos momentos que talvez tenha sido melhor não ter tido sua presença.

Essa experiência interna se reflete também nas relações com o mundo exterior. Às vezes me pergunto em que momento você se tornou tão presente, tão insistente em habitar os intervalos do meu pensamento. Talvez tenha se alimentado dos silêncios que deixei, das dúvidas que guardei sem coragem de expor. Hoje, percebo que não preciso mais ser seu refém. Não vou fingir que é simples; tem dias em que a lembrança de você pesa, e em outros, quase desaparece entre as pequenas conquistas cotidianas. Aprendi que posso escolher a qual voz interna darei ouvidos. Se for para me acompanhar, que seja como aprendizado e não como obstáculo, porque há uma vida inteira me esperando além dessa velha montanha russa de altos e baixos emocionais e decido, daqui para frente, que o controle do percurso é meu.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Tabu em relação à deficiência

         É o seguinte...sou uma mulher prestes a fazer 40 anos e com base no que já ouvi e vi, percebi que algumas pessoas ficam intrigadas quanto a alguns assuntos relacionados à deficiência mas não perguntam. Então resolvi trazer aqui um exemplo...SEXUALIDADE! Trago esta palavra em caixa alta para talvez gerar um certo incômodo mesmo. Se falar sobre sexualidade pode ser um tabu para muita gente, imagina falar da sexualidade de uma pessoa com deficiência -- algumas pessoas, senão a maioria, não admite, mas acha que por termos uma deficiência somos uma espécie de anjinhos que não pensam nessas coisas kkk.

Falar sobre alguns assuntos incomoda, né? Agora imagina presumirem que, por termos alguma deficiência, não podemos amar e/ou sermos amados, não namoramos, não gostamos ou que não sentimos desejo etc. E, falando nisso, ninguém pergunta para alguém sem deficiência sobre esses assuntos! Por que será?

Vamos lá...sexualidade, sexo e relacionamento amoroso estão interligados e fazem parte da condição humana, não? Pois bem, somos parte também...nós, pessoas com deficiência podemos experenciar tudo isso também. E, se tem algo que aprendi ao longo do tempo, é que viver plenamente, se é que dá para fazer algo plenamente, a própria sexualidade é um direito e uma potência, não importa quais sejam as nossas particularidades. A sensação de ser vista apenas pela deficiência ainda é um obstáculo, mas não é maior do que a minha vontade de me expressar, me apaixonar, viver e ser desejada — com todas as nuances e imperfeições que existem em qualquer pessoa.

Em relação ao tema proposto, gostaria elaborar algo: embora já tenha vivenciado alguns relacionamentos amorosos, ainda sinto certa insegurança ao considerar um novo envolvimento. Isso porque frequentemente reflito sobre os motivos pelos quais a outra pessoa deseja estar comigo e, diante das primeiras adversidades, me questiono quanto tempo levaria para que ela se afastasse. Apesar de adotar o princípio de não desistir do amor, mesmo depois de “bater a cara”, e de manter o desejo de me envolver novamente, reconheço que experiências passadas deixaram marcas e, possivelmente, algum grau de receio. Todos enfrentamos dificuldades em diferentes níveis, mas vale mais tentar do que ceder ao medo, mesmo quando tudo parece dar errado.

Somos pessoas, não somos? Independentemente de qualquer limitação, pessoas com deficiência também possuem sentimentos, vontades e capacidade de amar ou manifestar desejos.

Sou uma mulher branca, hétero... e, com deficiência. Gosto de sexo e, não só do sexo em si, gosto dos carinhos, beijinhos, abraços... toques em geral, que podemos chamar de preliminares mas também gosto, adoro, esses carinhos durante também. Aquelas trocas de olhares, embora tenha estrabismo kkk, me excita, jogos de sedução, embora não saiba muito como funciona. Nem sei se tenho essa capacidade, mas até agora nunca ouvi reclamações 😊(estou me expondo muito né? kkk)

Bem, dito isso, vou contar porque resolvi escrever esse texto. Imagino que algumas pessoas achem que por ter uma deficiência não namoro, não sinto prazer e/ou por conta do “corpo deficiente” não posso sentir atração por ninguém e, que alguém possa se sentir atraído por mim. Acho que algumas pessoas relacionam corpos com deficiência a corpos defeituosos, incapazes de atrair olhares desejosos e desenvolver um vínculo amoroso com alguém, só olhares de pena. Social e culturalmente isto ainda parece ser continuamente reproduzido, apesar de tanto já se ter falado sobre esta questão. Tudo bem que algumas pessoas são assexuadas ou por algum motivo não sintam atração sexual, mas não é meu caso. Talvez essa informação possa até chocar, ainda mais pessoas que já tenham uma concepção pré-estabelecida sobre mim.... embora sexo e amor não sejam necessariamente a mesma coisa, acredito que necessita sim de alguma conexão para se entregar, eu pelo menos sou assim... ficar, dar um beijinhos até que vai mas para mim sexo são outros 500. Adoro estar apaixonada e, dependendo da pessoa, sinto desejo, vontade de estar junto e, apesar do que pensam ou possam pensar, posso “namorar” sim -- gente, assim, esse blog foi feito para expor mesmo e arco com as consequências disso kkk.

Agora existe uma outra questão: antes de mais nada, tem a danada da QUÍMICA, que no caso acho que não deve se ater a química somente mas, na minha opinião, um “acontecimento amoroso” deveria conter, além de química, física e biologia kkk. Digamos assim: vamos ver no que dá...será que você combina comigo? Nossas bocas se encaixam? E... mais para frente, nossos corpos se encontram e dão “match”?  Ok...vamos lá!! Química, o famoso “o santo tem que bater”, os mais românticos dirão que há uma conexão entre as pessoas. Física, ora...quem disser que a beleza física não é um fator de atração está mentindo! Você se sente atraído por alguém primeiramente pela beleza física, não é? Primeiramente hein kkk, porque só a beleza não se sustenta gente, até porque um dia ela vai embora e aí, vai fazer o quê? Biologia, gente... anatomia né... faz parte, corpos.

Sinto falta de estar com alguém! Pera aí, deixa eu explicar, não é qualquer alguém. Mereço alguém que esteja na mesma frequência que eu, que “nossas esquisitices combinem” sabe 😊, que um queira a presença do outro. E que frequência é essa? Sabe aquela pessoa que adora beijinhos e abraços? Então, essa sou eu! Claro que tem horas que não quero nada disso não, mas, na maioria das vezes, gosto de abraços sim, gosto de beijinhos sim, junto disso adiciono (parece receita, sair adicionando né kk) beijinhos no pescoço, no canto do lábio...hum....

Recentemente me perguntaram se já namorei ou se seria melhor namorar alguém “igual a mim”. No começo estranhei a pergunta, mas não posso dizer que não entendi. Entendi -- e muito bem. A verdade é que para mim não importa muito se a pessoa com quem estou tem ou não alguma deficiência: me apaixono pela pessoa e não pela deficiência que possa ter. Não me aborreço que me façam esse tipo de pergunta. O que me aborrece é como a pergunta é feita poque, curiosidade, todo mundo tem, só que nem todos têm coragem de perguntar e, a resposta, caros leitores é não, nunca namorei alguém com deficiência. Agora, igual a mim, não sei, pois sou maravilhosa e única (autoestima é tudo né kkk).

 

 

terça-feira, 11 de março de 2025

"Qual é a dor que não dói?"

Como já escrito em alguns posts atrás, fiz esse blog como forma de me ajudar a processar algumas coisas com relação a minha deficiência, minha limitações e meus desafios diários. Na verdade, escrevi esse blog pois sempre era única aluna com deficiências nas escola e, depois na faculdade (na primeira, porque na 2ª já encontrei alguns de canto de olho). 

Depois de um tempo, resolvi fazer do blog uma espécie de diário virtual para ser algo além da deficiência, pois, sim, nasci com uma deficiência, mas existe outras coisas em mim. Volto sempre na questão da deficiência nas coisas que escrevo porque, querendo ou não, está dentro de mim e não vai sair. Mas sou uma pessoa e pessoas são cheia de questões, de complexidades, de sentimentos e, por vez ou outra, posto sobre meus sentimentalismos aqui. Escrever é uma forma de tentar externalizar o que sinto, não necessariamente por alguém, às vezes é, mas na maioria das vezes é sobre mim mesmo😉

Fernando pessoa, Luís de Camões, Carlos Drummond de Andrade ou qualquer outro dono de poemas, poesias ou frases belíssimas sobre amor e dor, as músicas antigas, ou vintage também, longe de mim querer insultar o que escreveram, sentiram e/ou relatam, mas também escrevo né....E a época de você já passou, embora ainda às vezes ecoem na memória e nos sentimentalismos dos/as românticos/as.

Por isso, meus caros, escrevo-lhes isto:

Convivi ou ainda acho que convivo, com meus medos e inseguranças que não queria, mas vieram mesmo assim. Ter que se reinventar e ressignificar muitas vezes se torna necessário. Sou bastante emotiva, tenho um lado racional também, mas acho que está meio desequilibrado sabe? Acho que, por algumas vezes ser emocional, emotiva, talvez não tenha me ajudado em alguns momentos, nem sempre consigo guardar o que sinto.

Dói,

doeu,

continua doendo?

Processos dolorosos mas muitas vezes necessários, não necessariamente físicos. O que existe creio que esteja mais ligado ao processo de cicatrização do que cura em si.

Ressignificados, traumas transformados.

Encontros e desencontros... De nós, dos outros....

Da vida...


sábado, 8 de março de 2025

Os Souza

 Não sei como reagiram quando descobriram que eu tinha uma deficiência. Embora eu estivesse lá, era muito pequenininha para saber hahaha.

Bom, eis o que me contaram: quem disse, reparou ou não sei, que tinha algo de diferente em mim foi minha bisavó.... Muito bom, bisa!

Primeira filha, sobrinha, neta, bisneta... Nasceu uma pessoa com deficiência na família que só depois iriamos descobrir que nome ela tem (a deficiência e não eu, o meu nome veio na hora mesmo).

Sou a filha mais velha das duas meninas que minha mãe teve e a mais velhas das quatro primas -- minha tia teve duas meninas também. Não sei ou não lembro como foi explicar tanto para minha irmã como para as minhas primas a questão da minha deficiência, das limitações e tudo o que a acompanha e acarreta mas acredito que foi e tem sido uma aventura diária, não só para contar para elas mas para descobrir para mim também.

Minha bisavó, que nos deixou em 2013, era a matriarca da família.  O encontro marcado era na casa dela aos domingos, era o máximo, eu adorava ir lá, às vezes saia de lá melhor do que chegava, e ela, que "descobriu" a condição que acredito que mais ninguém tinha percebido, nem sempre lembrava meu nome, mas, sempre que ia embora da casa dela, ela falava - cuidado para não cair, viu - Oh bisa, não lembrava meu nome mas sabia que tinha algo nas pernas, que saudade! 

Minha vó foi a mais velha das quatro meninas que a bisa teve e que, por sua vez, teve duas meninas, A. M. e V. M, e dois meninos, W. A e F. A., minha mãe, minha tia e meus dois tios, a quem amo muito (curiosidade: meus tios são meus padrinhos também, pois se não fosse assim não teria batizado. Mandou bem hein, mamãe!). 

Vovó nos deixou em 2016, sinto muita falta dela! Ela deu muito suporte para mamãe depois que nasci (diva master vovó!). Atualmente o posto de vó foi para a segunda filha da minha bisa, tia D, a quem amo de paixão e com quem sempre ou quase sempre troco figurinhas sobre diversos assuntos, inclusive bullying, preconceito e coisas que já não me deixam mais tão incomodada quanto antes. Ah, titia também fala o que quiser para mim, não só eu, viu.... A terceira e quarta filhas da bisa, tia L e tia F são as que menos vejo mas também são tias-avós.

É essa é a família Souza, tem a família Maia também, mas convivo mais com a família materna, os Souza, de quem me orgulho muito. Sou coruja mesmo, o que posso fazer hahaha!

Sempre tive um suporte familiar muito bom, ainda bem! Avós, tios, mãe, irmã e primas...não tenho o que me queixar. Sei que nem sempre é a realidade de todo mundo e me solidarizo tá. Às vezes fico meio na bad mas logo logo passa mas, quem é que não fica né, com ou sem deficiência. Houve um tempo que me olhava no espelho e dizia que as pessoas que zombavam de mim, que era mais no tempo da escola, tinham razão - quem iria olhar para mim assim? (oh, Júlia, a vida não é só isso, acorda mulher!)

Fui crescendo, amadurecendo as ideias, quedas vieram junto, pois fazem parte do quadro da deficiência e a acessibilidade é uma maravilha, mas abafa o caso.... Fui percebendo que questões sobre deficiência, não só minhas mas de outras pessoas que fui conhecendo ao longo do caminho (sim, por mais que pessoas com deficiência sempre tenham existido, agora tem um pouquinho mais de visibilidade), questões sobre rede apoio, famílias e amigos, me fizeram e fazem, de certa forma, me conhecer e me reconhecer como uma pessoa além da minha deficiência.

E, olha só, mesmo de depois de mais velha (40 anos daqui a alguns meses), ainda tenho que explicar sobre minha deficiência, já não como antes. Na verdade, atualmente, não me incomoda muito o que perguntam, ou nem sempre perguntam e já assumem, e mais como perguntam. É meio incômodo, mas depois de um tempo aprendemos como responder ou a não ligar tanto para o que dizem, até porque vão olhar mesmo e vão dizer. O importante depois de um tempo é o que faremos a respeito né...haha.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

No Limite do Equilíbrio

Há várias maneiras de se contar uma história, pode ser através de um desenho, uma pintura, dança, música, poema, filme etc. Eu escolhi ou, estou escolhendo a arte da escrita, que para mim, me fez e me faz questionar algumas coisas e, acho que me fará questionar algumas ainda, sabe. Sempre que acontecia algo comigo e/ou queria extravasar, ficava com raiva, gritava e chorava e, confesso, até umas brigas rolavam, principalmente nas escolas e algumas com direito a socos kkkk, pois é, às vezes eu batia nos colegas que faziam chacota comigo, ainda dá vontade de vez em quando, mas eu parei com isso e agora só escrevo mesmo kkkk. Demorou um pouco mas acho que agora encontrei outra forma de extravasar!

Bom, não é fácil elaborar algumas coisas dentro de você, fica tudo tão confuso às vezes e aí só pioram as coisas...acho que nem sendo a Gloria Pires e o Tony Ramos de SE EU FOSSE VOCÊ daria jeito, podia até acabar bagunçando ainda mais. Imagina eu na sua cabeça e você na minha? Acho que até poderia piorar o que seria para melhorar. Na TV dá certo porque é filme e tudo se ajeita no final. Relações humanas são complicadas, muita complexidade em jogo, mas ainda sim acho que vale a pena algumas relações! Meio irônico talvez né, mas gosto de gente.

Escrevia bem antes de criar esse blog sabe. Escrevi muitas cartas e bilhetes que nunca mandava. Ás vezes ainda faço isso kkk. Músicas também me encantavam a ponto de tentar me traduzir em algumas delas. Até tentei fazer alguns poemas, não era muito boa, mas tudo ou quase tudo que me confortava, eu fazia. Já estava meio cansada de tanto brigar com quem não estava nem aí. Por mais que o choro seja terapêutico, também já estava cansada pois na maioria das vezes era choro de raiva ou de decepção. Enfim, estou tentando canalizar minhas energias para outras coisas.

Perguntas sem respostas, desabafos abafados, questões jogadas como um quebra cabeça para montar.... às vezes me sentia meio deslocada e, acho que, de vez em quando ainda me sinto assim. O que escrevia acabou virando uma jornada em busca de aceitação que anos depois se tornaria autoaceitação, processo muito complicado e que às vezes podemos nos perder no meio do caminho.

 Acho que nunca falei aqui o significado do nome do meu blog né? Falei tanta coisa, escrevi tanta coisa, que já nem sei mais kkkk, enfim, o nome No limite do equilíbrio tem um significado enorme para mim e a escolha desse nome foi meio demorado a ser “descoberto” mas, depois de um tempinho e uma ajuda visual bem específica, por assim dizer, foi criado no ensino fundamental, na 5ª série para ser mais exata, o nome do que seria, anos mais tarde, um blog, um trabalho e até uma minipalestra kkk.

Dito isso, destrinchemos o título, está bem! Bom, Limite, vivo no meu né...acho que estou em constante "briga com ele", briga que me refiro talvez seja uma espécie de desafiar, de tentar ir além, e Equilíbrio é porque ele é meio desequilibrado né kkk, costumo até dizer que me equilibro no meu desequilíbrio ou até mesmo que estou numa corda bamba só que no chão kkkkk.

No limite do equilíbrio surgiu justamente por questões que me foram colocadas e aí juntei com desabafos, misturei com a tentativa de desmistificar algumas coisas, dei pitadas de emoção com uma dose de humor, porque né...essa sou eu kkk. 

Já me perguntaram sobre minha deficiência. Algumas pessoas, mesmo curiosas, não perguntam, por vergonha, preconceito ou por não quererem machucar, ou ainda por convenção social mesmo. Hoje em dia, perguntam mais, às vezes. Perguntam se me sinto confortável em falar sobre minha deficiência, o que posso ou não fazer, o que gosto, etc. Na verdade, não lembro direitinho quando de fato cruzei essa linha de sentar e conversar a respeito da minha deficiência, mas lembro de, quando ingressei na primeira faculdade, em 2005, Faculdade de Artes Dulcina de Morais, tomando um café na hora do intervalo entre as aulas, uma colega que era, na época, auxiliar de enfermagem, sentou-se na mesa onde estava tomando café e perguntou, primeiro, se estava tudo bem em falar sobre isso, se não me incomodaria que ela perguntasse o que eu tinha, e se era de nascença ou acidente. Aquilo mexeu comigo, mas não no sentido de ter me incomodado, ou de ter me deixado triste; ao contrário, achei uma boa oportunidade para tentar me expressar além das coisas que escrevia nas horas vagas na minha agenda, que fazia as vezes de diário; antes só escrevia sobre isso, o que foi e tem sido uma espécie de terapia para mim. Foi também nesta faculdade que fiz alguns trabalhos sobre o tema inclusão, adicionando minha visão pessoal.

Na faculdade, assim como nas escolas que frequentei, era a única aluna com deficiência da turma, então, resolvi, de um jeito engraçado (para mim, pelo menos), fazer pequenos textos contando como me sentia sobre minha deficiência. Foi assim que surgiu “Fragmentos de Mim”, compilação minha junto com meu antigo professor, Túlio Guimarães. Aqui conto como foi que ele me “descobriu”. Aconteceu assim: estava numa aula chamada “direção de atores” e estava, para variar, rabiscando no meu “agendário”, não costumo usar agendas para a função delas kkk. Então, na hora que a inspiração bate, eu escrevo, e em uma dessas vezes em que ela veio foi bem na hora do intervalo. Todos da sala estavam se reunindo com dois ou três colegas para dirigi-los em sua cena e, eu, como de costume, sentei-me num canto da sala e fui retocar um dos textos que havia escrito, dentre os vários que tinha. Então, vendo que eu não estava trabalhando com ninguém, o professor viu o que eu estava escrevendo e, para minha surpresa, ele gostou e surgiu a ideia do monólogo. Fiquei tão nervosa quando chegou a hora de apresentar porque, para mim, uma coisa é apresentar trechos de peças de teatro já montadas, outra completamente diferente é fazer algo que você escreveu, sobre sua vida.

A verdade é que sempre gostei de escrever, sempre gostei de contar histórias, só ainda não estava pronta para contar as minhas. Gostava e, ainda gosto, de comprar bloquinhos, cadernos, tudo que desse para escrever, assim sempre podia contar como me sentia, se estava feliz ou triste, se algum acontecimento me incomodava ou não... o mais engraçado disso tudo é que, como sempre fui muito comunicativa, achava que falar sobre o que estava me incomodando iria ser o suficiente, mas pelo visto não era assim. Não é fácil conversar com ou sobre os nossos demônios, olhar para dentro de si e ver tudo aquilo que está nos inquietando e tentar organizar da melhor forma possível.

Aqui em casa sempre tenho vários caderninhos, de muitos tamanhos e adoro comprar mais (gosto muito de papelaria). Por que gosto de escrever? Bom.... Como sabem, nasci com uma limitação física, uma deficiência que irá me acompanhar pelo resto da minha vida. Pois bem, o processo de adaptação ou, diria, autoaceitação, pode ser bem doloroso. Por quê? A sociedade nos impõe um monte de coisa né, temos que ser funcionais, “moldados” em um padrão para não atrapalhar, para nos encaixar, caso ao contrário, somos isolados, excluídos do convívio das pessoas. Pois é, pensando nisso e em algumas questões desagradáveis que já me aconteceram, achei que seria um ótimo espaço de desabafo. Infelizmente ou felizmente, remoía o que havia me acontecido, na maioria das vezes, eram acontecimentos bem específicos e cada vez que lembrava, um sentimento novo me vinha na cabeça.

No começo achava que por ter nascido como nasci tinha que buscar uma espécie de perfeição, no sentido de: ok, nasci em uma situação da qual não posso mudar, mas não posso ficar me queixando por ser assim, tenho que pensar que tem gente em pior situação que eu e além disso pensava muito também nos meus familiares e amigos, em quanto eles me ajudaram e me ajudam ainda, mas aquilo que está incomodando e chateando tinha que pôr para fora de algum jeito né? Precisava me ajudar, me entender, entender tudo o que estava sentindo, as frustrações, decepções, o que falavam sobre mim e para mim e como tudo aquilo me afetava. Também tem as expectativas, suas próprias e dos outros.... difícil não? Isso causa, na maioria das vezes causa dor, e não só física.

Atualmente acho que, no limite do equilíbrio para mim se tornou ou, tem se tornado, tentar encontrar um equilíbrio entre as minhas limitações físicas e, por que não adicionar emocional também né, afinal guardei tantas emoções ao longos dos anos, "ganhei" novas, tento me desapegar de algumas kkk, acho que hoje em dia tento encontrar um equilíbrio em tudo, já que o meu é meio desequilibrado mesmo kkkk.


sábado, 23 de novembro de 2024

quase 40....

 Nossa, faz tempo que não apareço por aqui né kk. Mas não pensem que não continuo escrevendo, na verdade, tenho alguns escritos que ainda não coloquei aqui e, para falar a verdade, alguns não sei se consigo colocar ainda kkk.

Semana passada e retrasada kkkk, comecei a escrever, a rascunhar, uma carta para mim mesma e por enquanto o que saiu foi isso aqui:👇

Para:  Júlia

De: ela mesma

Olá, sou eu... Quero te dizer uma coisa. Várias para ser exata. Primeiro e provavelmente a mais importante de todas: Vamos lá...respira e não pira! Como se diz no teatro, “eu sou o que sou e já desfruto disso” Ufa! Já equalizamos isso né?  Acho que nem tanto mas vamos indo né?!

Vou fazer 40 anos ano que vem e algumas coisas, ok, várias, estão passando pela minha cabeça.... Assim como todo mundo, tenho minhas inseguranças e receios, quanto a minha deficiência, vontades e anseios, meus sentimentos (esses tenho de monte e dão um medo danado), expectativas, mudanças, etc.... Enfim, está uma bagunça que estou tentando organizar de pouquinho em pouquinho, vou tentar elucidar um pouco aqui:

Uma coisa super, hiper, mega, blaster importante e que precisa ser levado para o resto da sua vida é que sua deficiência faz parte de você, ela não é você. Sou mais que isso! Já falei isso e vou falar de novo, me descubro a cada dia e, pode ser uma aventura prazerosa ou não mas faz parte né. Não posso acordar um dia e falar – vou deixar meu equilíbrio em casa - simplesmente não é assim que funciona.

Bom, quem me conhece sabe que sou romântica ou “emocionada” se preferirem chamar assim. Não ligo, sou assim mesmo, só que, confesso que algumas coisas andam me incomodando por assim dizer. Olha só, sou assim: Não sou pela metade, quando gosto vou dizer e se tiver alguma questão para resolver gostaria que falasse ao invés de se afastar mesmo parecendo muito difícil. Intensidade faz parte de mim e sei que isso nem sempre é bom, se entrega ao sentimento que está sentindo na hora e nem sempre se resguarda. Sou de escrever o que estou sentindo caso não consiga falar. Gosto de reciprocidade, lealdade e, como diz o ditado, “não faça com os outro aquilo que você não gostaria que fizessem com você”.

Sei que a vida nem sempre foi gentil e, por mais que ouça “já passou”, ainda machuca um pouco né?! Espero que a cada dia machuque menos. É meio clichê mas acredito que depois que passamos por algumas coisas desagradáveis, eventualmente e, às vezes com um pouquinho de ajuda, esses machucados acabam cicatrizando. Não falo das cicatrizes corporais, essas talvez sejam mais fáceis de “curar”. Me refiro aquelas que calam fundo, que podem causar um dano maior.

É difícil né?

Dói e às vezes fica dolorido ainda por um tempo

Já ouvir dizer que “o tempo cura todas as feridas” ... Curar eu já não sei mas a tendência é melhorar, ir diminuindo a dor, pelo menos esse é o ideal né?

 

Outra coisa, a vida nem sempre é como a gente quer, aliás, a vida não tem esse hábito, nem a vida e nem as pessoas. Criamos umas expectativas bestas, até quando dizemos que não estamos, isso na minha opinião já é uma expectativa.

Você tende a ver tende a ver o lado bom das pessoas, tenta, pelo menos. Uma vez já me falaram o seguinte: você não pode esperar das pessoas aquilo que elas não podem te dar. Muito verdade isso e, doido também pois pensamos que determinada pessoa é uma coisa e depois se mostra outra completamente diferente. Mas quando a pessoa já te mostra como ela (ele) é, mesmo que demore, você já está preparada e aí que não espera mesmo nada daquela pessoa.

 Acho que, infelizmente, sou uma pessoa que demora a se desapegar mas também acredito que hoje em dia quando consigo desapegar, não adianta mais me procurar.... Será Júlia??

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Brasília foi feita....

Brasília não foi feito para mim, ou para qualquer pessoa que tenha alguma limitação diferenciada, e, vou dizer por que.... ACESSIBILIDADE! E olha que já melhorou muito, mas ainda tem chão!!

Minha teoria é a seguinte.... Brasília foi construída em um tempo em que as pessoas morriam mais cedo e pessoas com deficiência e/ou que tenham limitações diversas e reduzidas eram “escondidas” em casa ou em algum outro lugar para “não incomodar”. E, como costumo dizer, estamos saindo das tocas, nos deparamos com um mundo de difícil acesso.

Algum tempo atrás escrevi um texto chamado me equilibrando no meu desequilíbrio... É verdade, tenho consciência de que meu equilíbrio não é tão “de boas” assim, mas sinceramente, não é fácil, embora tente dar o melhor de mim, se equilibrar nas ruas e calçadas que temos. E outra coisa, rampas e corrimãos não necessariamente são sinônimos de acessibilidade. É por essas e outras, meus caros, que por algumas vezes já comentaram que tenho andar de bêbado e outras coisas que, para ser sincera, não são legais, mas, ou tenho resposta na língua ou tento ignorar.

Outra coisa, que hoje em dia acho curiosa, por não ter uma deficiência visível, digo, não uso cadeira de rodas, muleta, andador (já usei quando mais nova), algumas pessoas não acreditam quando falo das minhas limitações ou, quando vieram até mim uma vez e me perguntaram: - você não tem mais paralisia cerebral né? Nossa, foi uma coisa complicada de se ouvir e, como eu iria elaborar isso para, da melhor maneira possível, responder. Eis a minha resposta: - melhorei ao longo dos anos devido a ter tido a oportunidade de ir para fora do país, Hungria, para fazer um tratamento que me possibilitasse ter a autonomia que tenho hoje, mas a melhora que tenho hoje não significa que minha deficiência não esteja comigo, nasci com ela e vou morrer com ela.

Voltando ao assunto sobre acessibilidade, ou a falta de, pessoas com deficiência e/ou que tenham limitações diferenciadas, acredito ter alguns desapontamentos ao sair de casa pois a falta de caminhos que proporcionem mais segurança e ajude na nossa autonomia acaba ficando meio prejudicado. Gente, vamos combinar, uma boa calçada ou um caminho que não tenha tantos obstáculos, faz muitaaaaa diferença.

Ao longo dos anos, fomos e, infelizmente algumas vezes ainda somos levados a crer que, devidos as nossas limitações, não somos capazes de fazer muitas coisas. Hoje, já estamos mudando um pouco isso mas o fator acessibilidade não ajuda muito nesse processo. O maior obstáculo, um dos, que encontro diariamente, andando pelas calçadas de Brasília é a dificuldade de ir para onde se quer, o direito fundamental de ir e vir, a não ser que vá de carro. A impressão que dá é, sinceramente, que caíram pequenas crateras nas ruas e calçadas, pois fica com umas pedrinhas no chão e, isso dá medo de cair. Há seis anos ganhei um triciclo, um dos melhores dias da minha vida pois sempre quis andar de bicicleta. Meu triciclo é manual, tem uma versão elétrica, mas acredito que devido minha circunstância não seria um bom negócio. Ando de triciclo sempre que dá, onde dá, faço “reconhecimento de terreno” para ver onde dá para passar mas devo reconhecer que fico com um pouco de medo de cair mas não paro por causa disso, pois, como digo, preciso me equilibrar duplamente, por minha deficiência e por meu triciclo pois, em certos trajetos tenho que ficar descendo e subindo do triciclo para conseguir passar por algum lugar.