quinta-feira, 28 de novembro de 2024

No Limite do Equilíbrio

Há várias maneiras de se contar uma história, pode ser através de um desenho, uma pintura, dança, música, poema, filme etc. Eu escolhi ou, estou escolhendo a arte da escrita, que para mim, me fez e me faz questionar algumas coisas e, acho que me fará questionar algumas ainda, sabe. Sempre que acontecia algo comigo e/ou queria extravasar, ficava com raiva, gritava e chorava e, confesso, até umas brigas rolavam, principalmente nas escolas e algumas com direito a socos kkkk, pois é, às vezes eu batia nos colegas que faziam chacota comigo, ainda dá vontade de vez em quando, mas eu parei com isso e agora só escrevo mesmo kkkk. Demorou um pouco mas acho que agora encontrei outra forma de extravasar!

Bom, não é fácil elaborar algumas coisas dentro de você, fica tudo tão confuso às vezes e aí só pioram as coisas...acho que nem sendo a Gloria Pires e o Tony Ramos de SE EU FOSSE VOCÊ daria jeito, podia até acabar bagunçando ainda mais. Imagina eu na sua cabeça e você na minha? Acho que até poderia piorar o que seria para melhorar. Na TV dá certo porque é filme e tudo se ajeita no final. Relações humanas são complicadas, muita complexidade em jogo, mas ainda sim acho que vale a pena algumas relações! Meio irônico talvez né, mas gosto de gente.

Escrevia bem antes de criar esse blog sabe. Escrevi muitas cartas e bilhetes que nunca mandava. Ás vezes ainda faço isso kkk. Músicas também me encantavam a ponto de tentar me traduzir em algumas delas. Até tentei fazer alguns poemas, não era muito boa, mas tudo ou quase tudo que me confortava, eu fazia. Já estava meio cansada de tanto brigar com quem não estava nem aí. Por mais que o choro seja terapêutico, também já estava cansada pois na maioria das vezes era choro de raiva ou de decepção. Enfim, estou tentando canalizar minhas energias para outras coisas.

Perguntas sem respostas, desabafos abafados, questões jogadas como um quebra cabeça para montar.... às vezes me sentia meio deslocada e, acho que, de vez em quando ainda me sinto assim. O que escrevia acabou virando uma jornada em busca de aceitação que anos depois se tornaria autoaceitação, processo muito complicado e que às vezes podemos nos perder no meio do caminho.

 Acho que nunca falei aqui o significado do nome do meu blog né? Falei tanta coisa, escrevi tanta coisa, que já nem sei mais kkkk, enfim, o nome No limite do equilíbrio tem um significado enorme para mim e a escolha desse nome foi meio demorado a ser “descoberto” mas, depois de um tempinho e uma ajuda visual bem específica, por assim dizer, foi criado no ensino fundamental, na 5ª série para ser mais exata, o nome do que seria, anos mais tarde, um blog, um trabalho e até uma minipalestra kkk.

Dito isso, destrinchemos o título, está bem! Bom, Limite, vivo no meu né...acho que estou em constante "briga com ele", briga que me refiro talvez seja uma espécie de desafiar, de tentar ir além, e Equilíbrio é porque ele é meio desequilibrado né kkk, costumo até dizer que me equilibro no meu desequilíbrio ou até mesmo que estou numa corda bamba só que no chão kkkkk.

No limite do equilíbrio surgiu justamente por questões que me foram colocadas e aí juntei com desabafos, misturei com a tentativa de desmistificar algumas coisas, dei pitadas de emoção com uma dose de humor, porque né...essa sou eu kkk. 

Já me perguntaram sobre minha deficiência. Algumas pessoas, mesmo curiosas, não perguntam, por vergonha, preconceito ou por não quererem machucar, ou ainda por convenção social mesmo. Hoje em dia, perguntam mais, às vezes. Perguntam se me sinto confortável em falar sobre minha deficiência, o que posso ou não fazer, o que gosto, etc. Na verdade, não lembro direitinho quando de fato cruzei essa linha de sentar e conversar a respeito da minha deficiência, mas lembro de, quando ingressei na primeira faculdade, em 2005, Faculdade de Artes Dulcina de Morais, tomando um café na hora do intervalo entre as aulas, uma colega que era, na época, auxiliar de enfermagem, sentou-se na mesa onde estava tomando café e perguntou, primeiro, se estava tudo bem em falar sobre isso, se não me incomodaria que ela perguntasse o que eu tinha, e se era de nascença ou acidente. Aquilo mexeu comigo, mas não no sentido de ter me incomodado, ou de ter me deixado triste; ao contrário, achei uma boa oportunidade para tentar me expressar além das coisas que escrevia nas horas vagas na minha agenda, que fazia as vezes de diário; antes só escrevia sobre isso, o que foi e tem sido uma espécie de terapia para mim. Foi também nesta faculdade que fiz alguns trabalhos sobre o tema inclusão, adicionando minha visão pessoal.

Na faculdade, assim como nas escolas que frequentei, era a única aluna com deficiência da turma, então, resolvi, de um jeito engraçado (para mim, pelo menos), fazer pequenos textos contando como me sentia sobre minha deficiência. Foi assim que surgiu “Fragmentos de Mim”, compilação minha junto com meu antigo professor, Túlio Guimarães. Aqui conto como foi que ele me “descobriu”. Aconteceu assim: estava numa aula chamada “direção de atores” e estava, para variar, rabiscando no meu “agendário”, não costumo usar agendas para a função delas kkk. Então, na hora que a inspiração bate, eu escrevo, e em uma dessas vezes em que ela veio foi bem na hora do intervalo. Todos da sala estavam se reunindo com dois ou três colegas para dirigi-los em sua cena e, eu, como de costume, sentei-me num canto da sala e fui retocar um dos textos que havia escrito, dentre os vários que tinha. Então, vendo que eu não estava trabalhando com ninguém, o professor viu o que eu estava escrevendo e, para minha surpresa, ele gostou e surgiu a ideia do monólogo. Fiquei tão nervosa quando chegou a hora de apresentar porque, para mim, uma coisa é apresentar trechos de peças de teatro já montadas, outra completamente diferente é fazer algo que você escreveu, sobre sua vida.

A verdade é que sempre gostei de escrever, sempre gostei de contar histórias, só ainda não estava pronta para contar as minhas. Gostava e, ainda gosto, de comprar bloquinhos, cadernos, tudo que desse para escrever, assim sempre podia contar como me sentia, se estava feliz ou triste, se algum acontecimento me incomodava ou não... o mais engraçado disso tudo é que, como sempre fui muito comunicativa, achava que falar sobre o que estava me incomodando iria ser o suficiente, mas pelo visto não era assim. Não é fácil conversar com ou sobre os nossos demônios, olhar para dentro de si e ver tudo aquilo que está nos inquietando e tentar organizar da melhor forma possível.

Aqui em casa sempre tenho vários caderninhos, de muitos tamanhos e adoro comprar mais (gosto muito de papelaria). Por que gosto de escrever? Bom.... Como sabem, nasci com uma limitação física, uma deficiência que irá me acompanhar pelo resto da minha vida. Pois bem, o processo de adaptação ou, diria, autoaceitação, pode ser bem doloroso. Por quê? A sociedade nos impõe um monte de coisa né, temos que ser funcionais, “moldados” em um padrão para não atrapalhar, para nos encaixar, caso ao contrário, somos isolados, excluídos do convívio das pessoas. Pois é, pensando nisso e em algumas questões desagradáveis que já me aconteceram, achei que seria um ótimo espaço de desabafo. Infelizmente ou felizmente, remoía o que havia me acontecido, na maioria das vezes, eram acontecimentos bem específicos e cada vez que lembrava, um sentimento novo me vinha na cabeça.

No começo achava que por ter nascido como nasci tinha que buscar uma espécie de perfeição, no sentido de: ok, nasci em uma situação da qual não posso mudar, mas não posso ficar me queixando por ser assim, tenho que pensar que tem gente em pior situação que eu e além disso pensava muito também nos meus familiares e amigos, em quanto eles me ajudaram e me ajudam ainda, mas aquilo que está incomodando e chateando tinha que pôr para fora de algum jeito né? Precisava me ajudar, me entender, entender tudo o que estava sentindo, as frustrações, decepções, o que falavam sobre mim e para mim e como tudo aquilo me afetava. Também tem as expectativas, suas próprias e dos outros.... difícil não? Isso causa, na maioria das vezes causa dor, e não só física.

Atualmente acho que, no limite do equilíbrio para mim se tornou ou, tem se tornado, tentar encontrar um equilíbrio entre as minhas limitações físicas e, por que não adicionar emocional também né, afinal guardei tantas emoções ao longos dos anos, "ganhei" novas, tento me desapegar de algumas kkk, acho que hoje em dia tento encontrar um equilíbrio em tudo, já que o meu é meio desequilibrado mesmo kkkk.