Em 2011, escrevi um texto que intitulei “Minha vida com Ataxia”. Gostei muito de escrevê-lo. Na época, foi quase que libertador colocar em palavras aquilo que eu vivia. Hoje, tantos anos depois, sinto vontade de revisitar essa história, não porque ela mudou completamente, mas porque eu mudei dentro dela. Deixa tentar melhorar um pouquinho e trazer para como me sinto hoje...
Ataxia, para quem não sabe é o nome da minha deficiência,
quer dizer, o nome mesmo é Paralisia Cerebral, o tipo é que é atáxica. É uma
lesão cerebelar que ocasiona falta de coordenação motora e o equilíbrio. Não
conhecemos a causa, por isso é definida por etiologia indeterminada.
Primeiro, deixa eu contextualizar, sou uma pessoa muito
brincalhona, tenho meu lado sério também, mas algumas pessoas costumam ter mais
meu lado “palhacinha”, como me disseram uma vez, e acho que esse meu lado virou
meio que uma proteção minha, uma válvula de escape, dizendo psicologicamente. E
assim ficou...
O tempo foi passando e acredito que meio que se fundiu na
minha personalidade (acredito que tenha uma de nascença, que são seus traços, e
outra que vai se moldando ao longo do tempo) .... Pois é, acho que quem tem
alguma circunstância diferenciada, digamos assim, meio que aprende algumas
técnicas de sobrevivência para conseguir lidar da melhor maneira que conseguem
com seus obstáculos diários. É importante reconhecer e acolher essas
estratégias que criamos para seguir em frente. Elas não apenas nos ajudam a
enfrentar os desafios mais evidentes, mas também fortalecem nossa autoestima e
nossa capacidade de adaptação. Cada pequena conquista diária se torna um motivo
de orgulho, e esse processo de aceitação acaba sendo compartilhado, mesmo que
sem intenção, com quem está ao nosso redor.
É cansativo sabe.... Mesmo depois de anos, fica meio
cansativo durante todos esses anos conviver com o fato do seu equilíbrio pode
te desequilibrar a qualquer momento, por mais cuidado que tenha consigo mesmo.
É chato na verdade, não vou negar...É cansativo e desafiador. A impressão que
dá algumas vezes é de que, quem está de forra (todo mundo tá de fora, o corpo é
seu, não dos outros 😊), deve achar que para me equilibrar é só
olhar por onde pisa. Não, não é! Não sei bem o que acontece nessas “engrenagens”,
mas parece ser um pouco mais complexo do que pensam. E também não é só uma
questão de olhar para frente e para baixo, se fosse tão simples assim...
Falo que às vezes preciso fazer uma espécie de
reconhecimento de terreno por onde seria melhor passar, mas, esse “terreno”
sendo irregular e algumas vezes desnivelado com a maioria das ruas e calçadas
que nós temos, não ajuda muito né?
Viver com Ataxia é isso: um equilíbrio constante entre o que
o corpo permite, o que a mente aprende e o que o coração insiste em continuar.😘
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