sexta-feira, 24 de junho de 2011

Minha vida com a ataxia

Vivo com ataxia há quase 26 anos agora, e, já é como se fosse uma parte de mim; é uma parte de mim. Ensinaram-me a conviver com essa condição permanente. Permanente porque não tem cura e vou conviver com ela a vida toda Mas, pelo menos aprendi ou acho que aprendi a digamos, amenizar essa convivência. Sim, porque não é fácil não, viu! Durante anos quis saber a causa, ou a possível causa da minha ataxia. Demorou um pouco para aceitar que não havia nenhuma causa explicável ou pelo menos, eu não soube de nenhuma. Isso ocasionou a minha falta de coordenação dos movimentos e afetou meu equilíbrio. A vida com a ataxia não me incomoda hoje. Vivo como posso, o que é muita coisa, comparado às coisas que eu achava, e os outros também achavam, que eu nunca poderia fazer. Tá certo que eu não corro, não pulo, não ando de bicicleta, não dirijo etc, mas ajudo em casa. Vou ao mercado para minha mãe - atravessando a rua sozinha - compro pão, vou à lavanderia... E posso fazer algumas tarefas domésticas, lavo louça (me aborrece muito quando quebro alguma coisa), etc. Às vezes, quando bate um desespero, dá vontade de sair gritando, xingando tudo e a todos mas, depois que esfrio a cabeça, vejo tudo o que conquistei e as pessoas que enfrentei para estar como estou agora, tudo fica bem. :) A ataxia, o jeito que ando, já me causou algumas situações um pouco embaraçosas mas ao mesmo tempo engraçadas. Por exemplo? Certa vez, saindo da faculdade a caminho do metrô, uma moça se aproximou de mim e disparou: não esta muito cedo para beber? numa situação dessa dá até vontade de perder a compostura e descascar com a pessoa mas, ensinaram-me a ser educada, então respondi educadamente e, com muita paciência, que era esse o meu jeito de andar. Ela ficou calada e eu segui meu caminho. Chegando a estação de metrô, olhei para trás e vi a mesma moça parada me olhando com um olhar para mim bem familiar: espanto, pena, sei lá mais o quê. Mas, sabia que esse olhar já me perseguia antes. Enfim, como não tem cura o que tenho, só melhora, como diz minha mãe, tento melhorar sempre. Me incomoda mas não como antes. Acho até que fiquei mais forte agora. Não me abalo tanto. E continuo vivendo... Vivendo como dá.