sexta-feira, 29 de julho de 2011

Igual e diferente

Eu sempre me senti muito mais diferente do que normal, igual a todo mundo. Nunca achei que a normalidade fosse para mim. Na escola, eu via as garotas todas muito bonitas, confiantes e andando sempre seguras de si. Queria ser igual, tentava ser igual. Os meninos me achavam feia e, muitas vezes me diziam isso. Feia, esquisita e outros adjetivos nada amigáveis. Muitas vezes eu ficava sozinha sentada no pátio do colégio porque ninguém queria ficar do meu lado. Não me chamavam para brincar. Aí, muitas vezes, eu ficava lá, sentada num dos bancos vendo todos jogarem bola e comendo lanche juntos. Sentia-me ameaçada, por mais que seja difícil e até constrangedor admitir. Todo garoto que eu ficava afim, tava sempre fora do meu alcance e, quando era brincavam comigo. Já teve até quem disse ter pena de mim, que nunca iria arranjar alguém. Eu adorava um garoto lá da escola, até mais do que gostaria. E quando eu gosto, eu gosto. Ele era lindo, fiquei encantada por ele assim que passei pelo portão da escola. Aí começou né, escrevi uma, duas, três, cartas para ele dizendo o que estava sentindo. Na verdade nem lembro quantas cartas escrevi, mas sei que foram muitas. Fiquei arrasada quando, por diversas vezes, ele disse que eu não era nada, que ele não me queria. Como eu nunca fui do tipo que desiste no primeiro não, fui atrás e mais uma vez fui recusada. Já perdi as contas de quantas vezes já corri atrás do que eu achava ser meu príncipe, mas, qual é! no ensino fundamental vislumbramos cada coisa que chega até ser ridículo. Eu me sentia feia, desinteressante, desajeitada, sem atrativo nenhum. Achava que para ser bonita eu tinha que tentar ser o mais igual possível da menina eleita mais bonita da escola. Ela tinha cabelo comprido, não usava óculos, andava direito e ainda por cima era a mais popular da escola, todos gostavam dela. Para variar, queria ser igual. Aliás, eu queria não ser quem eu era na escola. Sentia-me tão humilhada, invisível às vezes. Doía-me muito quando me chamavam de esquisita, de feia, essas coisas que me deixavam lá para baixo. Eu queria ser bonita igual às garotas da escola, ser inteligente igual a elas. Eu me julgava não a altura daquelas meninas. Fizeram-me acreditar que eu possuía todas as características negativas que me fizeram acreditar que eu não tinha nenhuma qualidade, nenhum atrativo. A única coisa que chamava a atenção em mim eram minhas pernas desequilibradas. Eu me olhava e não me sentia bonita, sentia vergonha de ser como eu era, de quem eu era. Olhando para aquelas meninas que eu achava linda, eu pensava que eu tinha que fazer de tudo para ser igual a elas. Eu queria me sentir bonita também, valorizada pelo menino que eu tanto gostava. Mas ele me via como uma menina que ele também podia caçoar como o resto da turma. Ser igual ao pessoal da escola, ser popular e me enturmar com os outros era tudo que eu queria. Mas, como um patinho feio, como eu me achava, pode se igualar aos outros? Iriam rir mais ainda da minha cara se eu tentasse. Mas, Julia, você é diferente, então, não tente ser igual a ninguém que não dá. Eu acho que eu tive que passar por tudo isso na escola para entender que o meu diferente é legal. Olhando para trás eu vejo que não seria bom para mim querer ser igual aquelas meninas porque, além de eu não conseguir, pois cada um é como deveria ser, não queria ter o sentimento de superioridade, esnobes, que elas tinham achando que só por serem bonitas e populares podiam sair pisando em quem era diferente. Isso tudo me fez perceber que eu posso não ser a mais bonita, a mais inteligente ou mais popular, mas, o que isso fez de mim. Eu sou assim, do jeitinho que eu sou hoje. Tudo o que me aconteceu me fizeram ser quem eu sou hoje. Claro que as coisas que eu passava na escola ainda me acompanharam em alguns momentos da minha vida. Mas coisas assim ou até pior, ainda vão acontecer muito comigo, mas, tudo bem. Hoje sei que isso só me fez crescer, sempre. O menino, hoje um homem, que me fez sofrer na época, me ensinou que, linda, feia, inteligente ou não tão inteligente assim, popular ou não, ele pode não gostar de você não por suas qualidade mas sim porque ele simplesmente não esta a fim. É o sentimento que rege. E, as meninas que eu tanto achava bonitas eram esnobes e viviam de nariz empinado para quem quer que seja. Descobri que não precisava tentar ser igual a ninguém. Bastava eu ser...eu. Meu nome é Júlia de Souza Maia, 26 anos. Não sou o “padrão” de mulher que a maioria dos homens tanto desejam. Não me acho tão inteligente assim e não sou popular, pelo menos acho que não. Mas hoje sei que sou bonita, do meu jeito é claro, às vezes até me acho atraente, mas, acho que minha auto estima não subiu muito, pelo menos não como eu gostaria. Minha diferença me fez ser igual. Ninguém é igual mesmo. :)